JOVENS ASSUMEM A REVOLTA NO QUÉNIA

Pelo menos cinco pessoas morreram e mais de 30 ficaram feridas hoje durante um protesto contra o Governo no Quénia, em Nairobi, após os manifestantes terem ultrapassado os bloqueios da polícia e terem entrado no Parlamento, onde um edifício começou a arder. Meia-irmã de Barack Obama entre os feridos.

A Comissão Queniana dos Direitos do Homem (KHCR) declarou, em comunicado, que viu a polícia “disparar sobre os manifestantes, (…) matando alguns deles”.

Foram vistos “vários corpos inconscientes deitados em poças de sangue nos arredores do Parlamento, onde um edifício estava a arder”, segundo a agência noticiosa France-Presse (AFP).

Um responsável da Amnistia Internacional do Quénia, Irungu Houghton, referiu, em declarações à AFP, que “muitas pessoas ficaram feridas”, denunciando o “uso crescente de munições reais pela polícia” durante a manifestação.

A tensão aumentou gradualmente no distrito comercial central de Nairobi (CBD), onde decorria a terceira manifestação em oito dias do movimento apelidado de “Ocupar o Parlamento”, em oposição ao projecto de orçamento para 2024-25, que prevê a introdução de novos impostos e o aumento de outros.

Os primeiros confrontos eclodiram depois de os manifestantes terem avançado para uma zona que alberga vários edifícios oficiais, tais como o Parlamento, o Supremo Tribunal e a Câmara Municipal de Nairobi.

Os manifestantes ultrapassaram então os bloqueios da polícia para entrar no recinto onde os deputados tinham acabado de aprovar alterações ao texto, que deverá ser votado até 30 de Junho.

Segundo os meios de comunicação social locais, realizaram-se manifestações em várias outras cidades do país, nomeadamente em Mombaça (leste) e Kisumu (oeste), em Eldoret (oeste), região natal do Presidente, William Ruto, em Nyeri (sudoeste) e em Nakuru (centro).

O movimento “Ocupar o Parlamento” foi lançado nas redes sociais por jovens pouco depois da apresentação ao Parlamento, em 13 de Junho, do projecto de orçamento para 2024-2025, que previa a introdução de novos impostos, incluindo um IVA de 16% sobre o pão e um imposto anual de 2,5% sobre os veículos privados.

O Governo anunciou, em 18 de Junho, que retirava a maior parte das medidas, mas os manifestantes prosseguiram o seu protesto, exigindo a retirada da totalidade do texto.

Para os manifestantes, esta é uma manobra do Governo, que tenciona compensar a retirada de certas medidas fiscais com outras, nomeadamente um aumento de 50% do imposto sobre os combustíveis.

No domingo, dia 23 de Junho, o Presidente tinha anunciado que estava disponível para dialogar com os jovens.

De acordo com a Amnistia Internacional e a KHRC, as autoridades sequestraram vários activistas, mas a polícia não se manifestou ainda sobre estas acusações.

Entre os manifestantes estava Auma Obama, meia-irmã de Barack Obama, que durante uma entrevista à CNN foi vítima de gás lacrimogéneo por parte da polícia. “Já nem consigo ver, estamos a ser alvo de gás lacrimogéneo”, disse Auma Obama enquanto estava a ser filmada pela CNN.

Para o Governo, os impostos são necessários para restaurar a margem de manobra do país, que está fortemente endividado.

O Quénia, um país da África Oriental com uma população de cerca de 52 milhões de habitantes, é uma potência económica na região. Todavia, o país registou uma inflação anual de 5,1% em Maio, com os preços dos alimentos e dos combustíveis a aumentarem 6,2% e 7,8%, respectivamente, de acordo com o Banco Central.

Recorde-se que mais de 48,2 milhões de pessoas (sim, são africanos, são negros, mas não deixam de ser pessoas) sofrem de fome severa na África Oriental, onde as necessidades humanitárias se agravaram no último ano devido a fenómenos climáticos, conflitos, surtos de doenças ou crises económicas, alertou recentemente (15 de Março de 2024) a ONU.

Em “Fevereiro de 2024, mais de 48,2 milhões de pessoas, sobretudo na Etiópia, Quénia, Somália, Sudão do Sul e Sudão, sofriam de fome severa”, fez saber o Escritório das Nações Unidas para Assuntos Humanitários (OCHA).

Só em Fevereiro, foram notificados mais de 80.000 casos de cólera e quase 34.000 casos de sarampo numa região que cobre o Burundi, Etiópia, Quénia, Somália, Sudão, Sudão do Sul e Tanzânia.

Foto: EPA / Daniel Irungu / Lusa

Artigos Relacionados

Leave a Comment